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Coloriu

Atualizado: 19 de set. de 2023


Você já pensou em usar o “eu coloro”? Pois bem, nós não paramos muito para pensar em um verbo tão comum, simples e que até nos remete aos pequenos e seus desenhos de árvores e montanhas. Acontece que o colorir é o que chamamos de verbo defectivo, isto é, ele não possui todas as conjugações comuns ao restante dos verbos, logo, nós geralmente damos um jeitinho no português para dizer isso, algo como “eu estou colorindo”.

Ao refletir sobre como nós não dizemos o “eu coloro”, me dei conta que colorir é o que tentamos fazer. Todos os dias tentamos dar, por nós mesmos, cores aos nossos corações cinzas. Levantamos e dizemos “hoje farei do meu dia um grande arco-íris, vibrante e feliz! Ninguém acinzentará minha paleta fluorescente!". E nesse intento ávido por felicidade e bem-estar me vem à memória uma belíssima canção chamada “O Tapeceiro" de Stênio Marcius. Quem conhece a tradição reformada se lembrará automaticamente de “The Tapestry” da amada e querida irmã Edith Schaeffer. Stênio assemelha em sua letra a vida dos homens ao tecer de um artesão, como as muitas linhas, caminhos, cores, traços, nós e voltas de um tapete aludem ao nosso bagunçado viver, entre planos, prantos e pano. O tapete se forma, o desenho se faz, as cores surgem.

Contudo, como faço para as cores funestas não estarem em minha grande obra diária? Eis aí o centro de toda a minha consideração. Eu não consigo fazer que as cores cinzas sejam dissipadas e somente as cores que me fazem rir e sentir-me vivo saltem aos olhos daqueles que contemplam o tapete da minha vida. Em suma, eu não “coloro”.

O mais belo que Stênio cria em sua obra é identificar que, acima do meu pobre eu, há um artesão. Não qualquer artesão, mas um que conhece sua arte, sabe onde começar, por onde seguirá as linhas e, acima de tudo, colorir. O tapeceiro, como perfeito autor, tece as linhas alegres e vivas àquelas cinzas e escuras. E quando eu observo como as cores nubladas estão tomando conta, como as cores opacas prevalecem, taciturno meu coração somente anseia se ater ao pálido.

Olhando para o tapete de nossas vidas, é difícil dizer que nos alegramos com aquela cor melancólica, e nunca, de forma alguma, temos a esperança que sobre aquela linha cinza haverá cor. “Que lamento! É tudo sobre como sou infeliz aqui!”, pensamos. Acontece que felizmente nosso Deus é um autor perfeito, que não se engana, não erra e não toma atalhos. Ele nos tece, dia a dia, no tapete de nossas vidas. Sobre a cor cinza e triste, sem ao menos esperarmos, resplandece a vivacidade das cores, os fios descem e sobem, são cores e mais cores. Talvez se tivéssemos essa conversa alguns poucos anos atrás eu não saberia dizer para que servem as linhas cinzas e escuras, não saberia dizer qual a necessidade dos tons opacos na nossa história. Foi, então, que eu consegui contemplar um pouco mais da grande obra do Tapeceiro. Consegui observar um pouco mais as belas imagens que se formavam pelo conjunto que se davam em meio a cores alegres e vivas, “que fazem contraste no meio das nubladas e tristes”.

Quando olhamos para a obra das nossas vistas apenas enxergamos o lado avesso daquele tapete, fios e linhas que pouco se conversam, mas Stênio já havia entendido isso. “Se você olha do avesso, nem imagina o desfecho. No fim das contas, tudo se explica. Tudo se encaixa, tudo coopera para o meu bem. Quando se vê pelo lado certo, todas as cores da minha vida dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro”.

Assim como o verbo colorir, eu não “coloro” por mim mesmo, mas Ele sim colore nossos dias. Ele colorirá.


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