Para que serve o homem?
- Raul Cardoso
- 24 de ago. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de mar.

Poderíamos tentar responder essa pergunta de várias formas mas, a verdade é que nunca obteremos uma resposta satisfatória. Essa pergunta tirou o sono de muitos filósofos ao longo da história, e cabe aqui analisarmos a partir de uma perspectiva aristotélica essa mesma questão utilizando algo material. Como por exemplo para que serve uma estátua de Zeus na antiga Grécia, ou um sapato? Bom segundo Aristóteles, temos de analisar 4 causas principais. Causas que explicam o que é a essência, a sua origem e o motivo de sua existência. do grego, (αιτíα.) causa, razão significa: o que é; como é; porque é; e para que é sua essência.
1) Causa material: a matéria, isto é, do que a substância é feita: Ou seja no caso ao analisar a estátua de Zeus, podemos dizer que ela é feita de algum tipo de material mineral, geralmente os gregos costumavam utilizar materiais como mármore, bronze, terracota pedra e madeira em suas esculturas. Mas para fins didáticos vamos escolher apenas um, o mármore. Já para o sapato podemos utilizar o couro e a borracha.
2) Causa formal: o que explica a forma que a essência possui: No caso da estátua ela possuí o formato de Zeus, já o sapato possuí o formato de sapato. Assim como identificamos qualquer outro objeto e sua respectiva forma, como um copo tendo a forma de um copo, isso se torna perceptível no próprio objeto ou coisa em si, a partir de como ela se apresenta na realidade.
3) Causa eficiente: o que é responsável por sua origem: Neste caso a pergunta é anterior a coisa em si, seria basicamente o que deu forma e finalidade a nossa estátua ou ao nosso sapato, e a resposta deve ser o próprio escultor da estátua ou o sapateiro. Ou seja o sujeito por trás a formação/criação de um objeto ou algo.
4) Causa final: a finalidade para a coisa ou ente existir: Aqui temos a pergunta que da sentido para algo existir, no caso da nossa estatua de Zeus temos a finalidade para os gregos antigos que era de adoração e representação, no caso do sapato seria basicamente para proteger os pés.
Seguindo esse raciocínio poderíamos explicar qualquer coisa segundo Aristóteles, para um homem grego do mundo antigo, com exceção de uma coisa, o próprio homem.
A partir dessa teoria das 4 formas conseguimos responder apenas 3 perguntas.
1) Causa material: O homem é constituído de ossos, pele, pelos, sangue, células e etc...
2) Causa formal: O homem tem formato de homem.
3) Causa eficiente: Podemos dizer que o homem é concebido por meio da reprodução de seus pais e seus pais por meio de seus avós e assim por diante.
4) Causa final: Mas aqui temos uma grande dificuldade em responder qual é essa finalidade do homem para os gregos.
Aristóteles diz que a finalidade do homem está ligado a εὐδαιμονία/ eudaimonia: é um termo grego que literalmente significa "o estado de ser habitado por um bom daemon, um bom gênio", e, em geral, é traduzido como felicidade ou bem-estar.
Esse era o fim para o qual o homem existia segundo a visão grega aristotélica. Poderíamos nos dar por vencido com essa resposta porquê parece bem plausível que a finalidade do homem é ser feliz.
Porém, é então que as escrituras nos oferecem uma resposta transcendental, subversiva e infinitamente mais satisfatória. Segundo o Catecismo Maior de Westminster a primeira pergunta diz o seguinte:
1. Qual é o fim supremo e principal do homem?
O fim supremo e principal do homem e glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.
Rom. 11:36; 1 Cor. 10:31; Sal. 73:24-26; João 17:22-24
Com base nisso podemos entender que Toda e qualquer resposta antropológica para a resposta do fim último do homem se torna insatisfatória. Pois não é capaz de alcançar ao abismo interno e externo, tanto da alma como das relações dos homens uns para com os outros, a resposta do catecismo pautada nas escrituras transcende quando abarca em sua resposta o "glorificar" é na glorificação a Deus que o homem da verdadeiro sentido a sua existência por meio do serviço a Deus e ao próximo Marcos 12:30-31 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
Diferente da ideia de uma busca infindável e egoísta por felicidade, as escrituras fornecem uma respostas oposta de serviço em primeiro lugar a Deus e em segundo lugar ao próximo, gerando naquele que pratica o altruísmo e o amor uma espécie de hedonismo cristão, muito mencionado por John Piper "Deus é mais glorificado em você quando você está mais satisfeito nele." Somente o serviço a Deus e ao próximo pode gerar verdadeira satisfação ao coração do homem.
Nosso dever portanto deve ser o buscar a glória de Deus que por consequência acaba sendo uma busca por alegria. E a resposta para a substituição pagã da eudaimonia de Aristóteles que povoa o imaginário coletivo de uma sociedade que no fundo está apenas interessada em como obter cada vez mais prazer e menos sacrifício, a somatória só pode ser uma sociedade doente pelo pecado do egoísmo e idólatra de si mesma.
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